Como foi o décimo encontro promovido pelo Clube de Cicloturismo
A plateia parecia hipnotizada num misto de admiração e até um pouquinho de inveja. No auditório, que nos dias úteis é a Câmara Municipal de Santa Maria Madalena, estavam três voltas ao mundo de bike reunidas: Antonio Olinto, Argus Caruso e Artur Simões. Esse foi o ponto alto do décimo encontro de Cicloturismo promovido pelo Clube de Cicloturismo.
A plateia de mais de cem ciclistas consumia cada dica dada pelos três e se deliciava com as histórias que colecionaram nas viagens. Quando Artur mencionou que saiu para sua viagem com menos de 100 reais no bolso, o espanto foi geral. Ele precisava sair em viagem para começar a receber o patrocínio. Essa informação fez os rostos de muita gente esboçar um sorriso com o pensamento: se ele conseguiu, eu também vou. Esse foi o espírito do encontro, compartilhar para que mais gente pudesse realizar seus sonhos. A palestra dos três sobre suas voltas ao mundo foi noite adentro.
O segundo batepapo que merece destaque foi do Walter Magalhães e Sergio Ribeiro sobre a viagem a Cuba. Mais do que contar sobre a viagem, eles montaram um verdadeiro guia para qualquer um repetir a aventura. Mesmo sendo uma viagem por estradas conhecidas, o tom de aventura foi dado pela falta ou desencontro de informações sobre o país. O que pode ou não pode na ilha dos irmãos Castro é sempre algo misterioso.
Outro encontro que fez muita gente se deliciar com as histórias, personagens e principalmente com a determinação de fazer uma viagem de bike foi com o Thiago Fantinatti, que acalentou o sonho de uma volta pela América Latina por 10 anos antes de conseguir partir e, mesmo com um braço quebrado nos primeiros dias da viagem, frustrou todas as rezas da mãe e seguiu seu caminho depois de tirar o gesso.
O papo com o pessoal do cicloativismo ficou meio deslocado. Exceto a parte sobre história, que coube ao André Schetino, cuja palestra foi apresentada no dia dos ativistas. A sensação de desencontro com o restante só serviu para reforçar a impressão que tenho que a maioria dos ciloativistas não é bem humorada. Eles podem ser irônicos em seus protestos, até porque são sempre bem informados e inteligentes, mas bom humor a meu ver é outra coisa. E só ouvir reclamações o tempo todo acaba com o bom humor de qualquer um.
A turma do turismo está sempre aberta a conhecer novos horizontes. Falou em sair pra pedalar por trilha nova, estamos lá. E esse é uma característica do bom humor, estar aberto a coisas novas. No encontro, os cicloativistas ficaram os quatro dias do encontro em Santa Maria, mas não saíam pra pedalar com o povão. Soube de apenas um que saiu no primeiro dia, e só. Talvez se dois dos que estavam escalados a falar tivessem chegado a tempo de suas palestras minha opinião seria outra.
O espaço reservado aos ativistas seria bem melhor aproveitado com as duas últimas palestras: como preparar alimento desidratado e as viagens do Rodrigo e Eliana pela Europa. O José Renato dos Santos, de Goiás, mostrou como é fácil preparar seus próprios alimentos para levar em viagem. Desde barrinhas de cereais a como desidratar frutas construindo seu próprio equipamento e aproveitado a luz do sol. Para quem se preocupa realmente com o que come, esse conteúdo deveria ter tido mais destaque na programação.
A Eliana e o Rodrigo mostraram como aproveitar muito bem a Europa gastando pouco. Fizeram dois pedais em uma mesma viagem: Santiago de Compostela e Alpes. Como eles mesmos classificaram, Santiago foi para colocar no currículo e depois buscaram algo com mais ares de aventura para a Eliana não achar que estava pedalando apenas em meio à “Disney”. A viagem a partir de Veneza em direção a Áustria foi um exemplo de planejamento.
Pedais
Claro que a parte mais divertida de todos os encontros são os pedais. Em Santa Maria vi algo que nunca havia visto antes, uma massa de mais de 100 ciclistas por uma estrada de terra. Como não era competição, a trupe sempre ficava compacta e isso rendeu muitas imagens empolgantes. São nesses passeios que a troca entre ciclistas é muito maior. A cada pneu furado ou corrente quebrada, novas amizades surgiam pela solidariedade natural de quem pedala fazendo turismo.
A área rural da região é montanhosa oferecendo belos visuais. Praticamente o tempo todo estamos subindo ou descendo, mas não há nenhuma subida mais grave que mereça destaque. Todos os novatos que, mesmo entrando rasgando nas subidas tentando aproveitar o embalo e endurecendo a perna logo depois por estarem com a marcha errada, não reclamavam. Como as subidas eram pequenas, logo eles estavam descendo novamente felizes da vida com o vento no rosto.
Nesse ponto, percebi que o encontro é um ótimo lugar para começar no cicloturismo. Como o ritmo dos pedais é lento, todos conseguem acompanhar, mesmo aqueles com bicicletas de parque. A organização garante apoio a todos por meio dos voluntários espalhados entre os ciclistas. Tudo isso, misturado à troca entre os participantes, ajuda um iniciante a ir muito mais longe. Todos saíram de lá com muita informação útil e muitos contatos para sua próxima ou primeira viagem.
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