A região de Timbó, Rio dos Cedros e Pomerode já era conhecida por muitos ciclistas e agências de cicloturismo da região sul do Brasil. Daria pra dizer que era o quintal de passeios do pessoal de Curitiba para saídas em feriados. Estradas se saibro que não atolam, cidades charmosas a cada cinquenta quilômetros, temperatura agradável praticamente o ano todo entre outros atrativos já faziam a fama dessa região entre os cicloturistas.
O passo seguinte foi facilitar o acesso para ciclistas de outras regiões e pra as turmas ou ciclistas autônomos. Foi assim que em 2008 uma associação de cidades patrocinou a montagem do circuito especialmente voltado para cicloturismo. Contrataram o pessoal do Clube de Cicloturismo e o projeto saiu do papel.
O circuito foi concebido para sete dias de viagem. A quilometragem diária indicada é de 50 km em média. Pode parecer pouco, mas a geografia do terreno e a beleza das paisagens consomem boa parte do dia. Basicamente você pedala quatro horas e gasta outras duas ou três em paradas. Nesse esquema de sete horas por dia em viagem, dá pra tomar café da manhã com calma e ainda chegar ao objetivo do dia com tempo para aproveitar o final do dia. Algumas paradas, principalmente na parte alta do circuito, merecem esse tempo extra de contemplação ao final de cada jornada.
Parte alta e baixa é outra divisão possível do circuito. A cultura europeia você encontrará na parte baixa, como Timbó, Pomerode e Rodeio. O destaque fica com Pomerode, onde você ouve facilmente alemão nas ruas, sem falar da culinária e de uma cervejaria artesanal. Em Rodeio, antes de começar a subida, o destaque é uma vinícola com todo o charme italiano.
No alto da serra, o clima nos faz lembrar a Europa. Os pinheiros e araucárias ganham destaque e as águas dos rios e cachoeiras são geladas mesmo em pleno verão. O ar fica mais fino e cortante.
Trechos
Timbo – Pomerode
Um trecho de 45 km relativamente fácil. Estradas de saibro sem movimento que ligam fazendas de alemães com suas casas no estilo Eixamel são a base da rota. Apesar de não ter uma subida de importância maior, a ascensão total no dia é de mais de quinhentos metros, o que resulta em certo desgaste das pernas. E, ainda para testar sua resistência, a chegada em Pomerode é por um bairro calçado com paralelepípedos. Para compensar, essa rua desemboca perto da cervejaria artesanal. Pra quem gosta de cerveja diferente, tudo se resolve.
Pomerode – Indaial
Esse pedaço é o menos interessante de toda a viagem. Você cruza com o asfalto umas duas vezes e é ultrapassado por carros fazendo poeira de vez enquanto. Para colocar um visual diferente no trecho, vale a pena fazer o apêndice do Morro Azul. Do resto é um trecho de ligação para formar o circuito.
Indaial – Rodeio
Ao sair de Indaial você começa a receber a recompensa pelo dia anterior. Primeiro que todo percurso até Rodeio é plano. Você vai por várzeas do rio Itajaí-Açu onde as plantações de arroz predominam. É o trecho mais agradável de pedalar e pode terminar com um bom vinho diretamente da vinícola.
Rodeio marca o fim da parte baixa – com mais 16 km pelo asfalto é possível voltar à Timbó. No entanto, para quem vai fazer o percurso completo, vale aqui uma sugestão: esticar o pedal até o Zinco. O pedal fica bem mais puxado porque são mais duas subidas importantes até a cachoeira e a pousada do Zinco. Mas a recompensa do visual e uma estada maravilhosa vale cada gota de suor e palavrão que você vai soltar no meio da segunda rampa. Se quiser fechar com chave de ouro, compre um vinho antes de subir. Você vai praguejar mesmo nas rampas e um quilo a mais no alforje não vai fazer diferença na subida. Mas um vinho diferente somando ao jantar especial que o pessoal prepara na pousada do Zindo faz.
Rodeio – Doutor Pedrinho
Se você parou no Zinco, esse trecho fica muito fácil. Logo de manhã você começa com uma agradável descida ao ar fresco e aromatizado pelos pinheiros. Depois disso é quase tudo plano, uma subida às vezes pra você não perder o preparo adquirido no dia anterior. O destaque em Dr. Pedrino é a igreja no estilo Eixamel.
Doutor Pedrinho – Alto Cedro
Essa parte é a mais aventureira do circuito. Você ainda vai continuar no alto das montanhas tendo que recorrer às jaquetas corta vento devido ao clima e apreciando as melhores paisagens da altitude. A aventura mesmo fica por conta de levar a bike para passear de barco e da estadia. Nesse ponto há apenas um hotel de luxo onde há registros de cara feia para cicloturistas enlameados que aparecem na recepção e, no extremo oposto, um caseiro que recebe os cicloturistas em casas de veraneio disponíveis à beira do lago. O caseiro foi a opção que a organização arrumou para baratear a estadia dos viajantes, mas o improviso e a falta de experiência hoteleira se faz presente. Nada grave que vá estragar o passeio, mas não se pode esperar muito. No hotel de luxo, o requinte do lugar vale nota, e segundo relatos recentes, passaram a aceitar cicloturistas com um preço menos salgado, mas ainda caro. Eles até já conseguem fingir bem que estão felizes com bikes cheias de carga e lama rodando pelo estacionamento. Portando, escolher a estadia nesse trecho é sempre uma surpresa.
Alto Cedro – Palmeiras
O percurso vai de uma represa a outra. Na saída você pode optar por usar o barquinho novamente para encurtar o contorno do lago e depois é só apreciar a paisagem de altitude. O trecho é o mais isolado do circuito. Antes de você avistar a segunda represa, só vai ter verde pra ver, uma estrada pra percorrer, um riacho pra atravessar e muito sol na moleira se o dia estiver bom.
Palmeiras – Timbó
O último trecho tem duas descidas de doer a mão pra quem tem freio duro ou muito medo. O problema de ter duas super descidas no mesmo dia é que entre elas tem uma rampa. Essa última provação é daquelas que nem te faz queimar as pernas ou o pulmão. Praticamente não tem como subir pedalando com alforjes. Claro que os atletas de plantão dão um jeito, mas quando passei por lá todos ao meu lado estavam empurrando. Ela é curta, mas complicada. O melhor a fazer é botar o papo em dia. Uma hora acaba. E quando isso acontece é só soltar o freio pra descontar. Mas como tudo no Vale Europeu tem recompensa, nas decidas desse dia você vai encontrar duchas de água gelada ao lado da estrada. Aproveite.
Como fazer.
A organização desse circuito é impecável. No site você encontra dicas, planilha, mapas e lista de hotéis e pousadas. Basta baixar tudo, fazer as reservas, principalmente em locais críticos e partir. Com dica podemos dizer que o melhor é ir o mais leve possível, não adianta levar barraca, pois não há lugares para acampar em todo o percurso e a hospedagem é barata e justa.
Se você não tem uma semana para fazer todos os trechos, pode optar por alto ou baixo Vale. O ponto de partida é Timbó do mesmo jeito. E como sugestão, a parte alta é mais bela. Perder Pomerode é uma pena, mas se você for de carro dá pra programar passar pela cidade na saída.
O acesso por ônibus se dá por Blumenau/Timbó. Para quem vai do sudeste, de Curitiba já dá pra pegar uma linha direta pra Timbó. A empresa é a Catarinense. Se for de avião, prefira o aeroporto de Nevegantes.