Um passo a passo para uma primeira viagem sem traumas ou estresse.
Algumas pessoas passam a viajar de bike depois de ter pedalado por trilhas de um dia nos finais de semana ou saído em viagens com agências de cicloturismo. Mas existem também aqueles que se encantam de cara com o cicloturismo e decidem ir direto para uma viagem solo. Nesse caso, é bom fazer uma adaptação física e buscar alguns conhecimentos básicos para se virar nas ocorrências que podem acontecer pelo caminho.
Em termos práticos o cicloturismo requer os mesmos preparativos que o montanhismo em termos de bagagem, só que adaptados a uma bike. Em vez de uma mochila cargueira, usamos um malabike para carregar a magrela em ônibus ou avião e alforjes para os itens pessoais. O kit de acampamento é quase o mesmo. Quanto à barraca, vale uma observação, usar uma autossustentável para quando o terreno for o quintal de alguém e o chão não puder ser espetado. Do resto, são as mesmas coisas. Na bicicleta temos a pequena liberdade de poder levar mais peso que um mochileiro. Rodando, as marchas aliviam o peso real da carga.
Em uma viagem de bike a quilometragem média diária é de 50 km. Em casos com muitos morros esse número diminui; caso contrário, com tudo plano à frente, ele aumenta muito. A velocidade de rodagem fica entre 10 e 15 km/h e a velocidade geral em torno de 8 km/h. Então para rodar 50 km levamos 6 horas no mínimo, o seja, o dia.
Quem já faz pedais nos fins de semana com cerca de 40 km sem grandes problemas pode considerar que o corpo está adaptado para uma cicloviagem. O que pode sentir nos primeiros dias é o fato de estar carregando 10 kg a mais. Essa carga a mais, se sentir, só fará diferença nos dois primeiros dias, no terceiro os músculos já terão incorporado o peso extra. Depois disso é aproveitar a paisagem.
Para os que ainda não chegaram aos 40 km no fim de semana, a sugestão é primeiro buscar essa adaptação antes de sair em viagem. Não que seja impossível sair viajando direto, mas o seu corpo vai sentir um pouco mais. Nesse caso, começar com menos quilômetros nos primeiros dias e ir subindo é o recomendado. Mas o ideal é fazer essa adaptação física previamente.
Agora, para os dois casos há uma recomendação, não gaste pernas demais no começo do dia. Nem mesmo para aproveitar o embalo de uma descida para diminuir o tamanho da subida a frente. Em cicloturismo o ideal é rodar a perna o máximo sem sentir muito peso nas coxas. Primeiro porque toda vez que você passa a fazer força, estará olhando para o chão e vai perder a paisagem. Segundo, porque você nunca sabe quantas e quais subidas terá à frente. Não importa o quão atleta você seja, esqueça o esporte e aproveite o visual.
A bike
Ela deve ser resistente e prática, só. Pagar dois mil reais a mais para ter um quilo a menos de peso não vai fazer sua viagem melhor. A bicicleta para cicloturismo tem que ter componentes mais para feios e parrudos do que belos e modernos. Uma boa medida para saber se está nos modelos indicados é o preço: deve ficar entre 1500 a 3000 reais.
Abaixo de 1500, os cubos, pedais e até câmbio serão fracos ou a relação de marcha é pouca para te ajudar a empurrar a carga morro acima. Acima de 3000, muito provavelmente você estará olhando para uma bike de competição que tem componentes lindos, ultra precisos, mas frágeis para enfiar em qualquer terreno e principalmente em bagageiros de ônibus que balançam, sacodem e onde bagagens alheias podem ir direto pressionar o câmbio.
Ela deve ter 24 ou 27 marchas em um grupo como Alívio ou Sram X-5. Um quadro resistente que pode ser alumínio da série 6000 ou 7000 e que tenha furação para o bagageiro traseiro. Uma suspensão simples e, se possível, leve em corpo de magnésio. Para o guidão, o ideal é alto ou com mesa regulável e manoplas largas e achatadas, o estilo borboleta é o ideal. Um selim de espuma com fenda ou de couro sem armação e por fim os alforjes que mais agradarem seus olhos.
A bagagem
As lojas de montanhismo têm tudo o que precisamos para um kit leve e prático. O foco deve ser: corte o pesado ou troque por um mais leve. Camisas de algodão ocupam espaço e pesam quando úmidas. Basta achar um tecido sintético que lhe agrade. Toalhas, é só optar pelas de alta absorção. Calças, as de montanhismo que viram bermudas resolvem. Para barracas e apetrechos de acampamento, basta olhar os mais caros primeiro para descobrir o ideal; depois vá descendo até chegar ao preço que você pode pagar.
Mantendo o foco em peso e espaço você sempre fará a escolha certa. E claro, não exagere na quantidade. Já que provavelmente você terá que lavar roupa um dia durante a viagem, programe lavar a cada dois dias e leve menos peças. Assim você chegará à quantidade certa.