Como é pedalar em grupo numa excursão guiada.
Véspera de feriado, chego a Curitiba para acompanhar uma excursão de ciclistas a Treze Tílias em Santa Catarina. A escolha da Bike Tour Club de Curitiba não foi por acaso, essa viagem tinha algo de especial. Era a tricentésima organizada por Américo Vieira. Ele começou em 84 levando curitibanos para pedalar na Graciosa.
Sua história como cicloturista começou muito antes e bem distante. Ele é de Manaus, onde corria como ciclista. Certo dia, lá pelos idos dos anos 70, decidiu com um amigo cruzar a Amazônia pela recém-construída estrada entre Manaus e Porto Velho. Mas essa é outra história para outra matéria.
Chego pouco antes da 19hs na frente da loja como marcado. A muvuca já é grande e mesmo assim metade das pessoas ainda não chegou. A diversidade de pessoas é grande. O perfil da turma que pedala com o Américo é mais família com média de idade superior a 40 anos. Isso é normal em agências de cicloturismo, cada uma agrega um perfil diferente de pessoas. E esse parece ser um fator que leva as pessoas a escolher um grupo para pedalar. Sintonia é fundamental para partilhar três dias de pedal mais a viagem de ida e volta num ônibus.
A grande vantagem de usar uma agência, além de fazer muitos amigos, é não se preocupar com nada. Pelo menos na Bike Tour é assim, você chega entrega a bike para o mecânico escalado para a viagem e as malas para o motorista que as identifica e guarda no ônibus. Depois é bater papo, reencontrar amigos e esperar a hora de partir. Aliás, esse é único ponto que não é certo em saídas de grupos: a hora da partida. Sempre tem alguém que atrasa num grupo grande. E nesse caso específico o atraso já tem até plaquinha de ativo fixo. É praxe.
Treze Tílias
A cidade que tem o título de Tirol Brasileiro é realmente especial. O único porém é chegar lá. Partir de Curitiba é uma boa opção, mas mesmo assim leva umas sete horas de ônibus. Com todos os atrasos, partimos às nove da noite para chegar no meio da madrugada ao Treze Tílias Park Hotel, o maior da cidade e com um atendimento genial. Na chegada, uma sopinha quente nos esperava e todos os quartos já definidos e registrados. Foi só tomar a sopa pegar a chave e descansar para o dia seguinte de pedal.
O primeiro dia amanheceu chuvoso. Alguns desistiram de enfrentar a lama, mas quem foi para pedalar pra valer, perder um dia, nem pensar. A equipe tinha capas de chuva para todos e assim fomos em direção a uma fazenda que iria preparar um risoto de tacho ao melhor estilo colônia italiana. Os 16 km de estrada sob chuva pesaram um pouco. Nesses passeios, a van de apoio vai acompanhando o grupo e periodicamente há uma parada para reunir o grupo e reenergizar as pessoas. No caso da Bike Tour, cada parada é uma festa. Tem banana, maçã, sucos e refrigerantes à vontade e, dependendo do trecho, até lanchinho. Por isso, fazer todo o trecho sem parada por causa da chuva deixou algumas pessoas de bico. Mas ao chegar ao galpão onde uma fogueira esperava o povo, o humor mudou. O risoto quentinho acompanhado de salada e vinho fez o resto. Em meia hora todos estavam renovados para o retorno.
Rota das Etnias
No segundo dia, o roteiro foi o mais indicado pelo Parizotto, responsável pelo hotel e grande entusiasta do cicloturismo na região. A Rota das Etnias começa por uma linha alemã onde ainda podemos encontrar casas de madeira dos tempos da colonização. Dela seguimos para o Cillo Broto, um sítio onde há um restaurante italiano que atende sob encomenda. Nesse local foi gravada parte da novela Zé Trovão e Ana Raio.
Nesse dia, quase sem chuva, o passeio pareceu muito mais leve com direito a parada para o tradicional lanche junto à gruta dedicada à padroeira da cidade e a primeira capela erguida pelos colonizadores. E o dia acabou nas piscinas aquecidas do hotel.
A noite teve programação extra, coisas de excursão. Show de dança típica do tirol e baile à fantasia. Com todo esse agito, no dia seguinte o pedal foi super leve ficando só na cidade. Ao estilo do turismo de Gramado, Treze Tílias tem vários atrativos como Mini Cidade, choperia e destilaria artesanais, duas dezenas de ateliers de escultores e loja de chocolate. Tudo isso, consome uma boa parte do dia no vai e vem de bike pela cidade. No meio da tarde, rumamos de volta a Curitiba.
O melhor de um passeio guiado
De tudo que uma excursão de bike guiada pode oferecer o melhor é a tranquilidade. Contar com carro de apoio, mecânico e tudo já definido faz dessa modalidade de cicloturismo a preferida por famílias ou casais que ainda têm a bike como lazer.
No caso de Treze Tílias, o esforço é um pouco maior do que pedalar no parque perto de casa. Mas, se a agência contar com um esquema como o da Bike Tour, isso não é problema. Com eles há sempre uma van acompanhando e resgatando o pessoal mais cansado. No dia da chuva, quando precisei ajustar meus freios para o último trecho de descida, achei meia dúzia de extenuados ao abrir a porta da van para pedir o ajuste. Estavam todos num papo animado em meio às bicicletas.
Estar acompanhado de um mecânico faz uma diferença fundamental, pois, todos os dias, antes de serem guardadas, as bike passavam por uma revisão com o Leandro. No dia seguinte à chuva, estavam todas zeradas e funcionando perfeitamente, ou seja, tranquilidade total.
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